Primeiros anos
Casanova foi criado inicialmente pela avó, depois de perder o pai ainda pequeno e ser negligenciado pela mãe, que viajava com companhias teatrais. Aos 9 anos, foi enviado a Pádua para estudar. Desde cedo mostrou inteligência excepcional, aprendendo latim, grego e filosofia. Aos 17 anos, formou-se doutor em Direito Canônico, mas preferiu a vida boêmia ao sacerdócio. Frequentava nobres, filósofos e cortesãs, e logo começou a se destacar por seu charme, engenhosidade e espírito sedutor.
Consagração como aventureiro
Durante sua juventude e maturidade, Casanova viajou por toda a Europa — Paris, Roma, Londres, Dresden, Viena, Praga e São Petersburgo — sobrevivendo com diferentes ofícios: músico, diplomata, espião, alquimista, jogador e escritor. Sua habilidade com palavras e sua inteligência o aproximavam de reis, papas, nobres e pensadores.
Em Paris, conheceu Madame de Pompadour e envolveu-se com a alta sociedade francesa, chegando a atuar como informante do governo veneziano.
O escritor e suas principais obras
Embora conhecido pela vida de aventuras, Casanova foi também um escritor talentoso e observador do espírito humano. Sua obra mais famosa é a monumental autobiografia:
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"Histoire de ma vie" (História da Minha Vida) – escrita entre 1790 e 1798, considerada uma das mais importantes autobiografias da literatura mundial.
Além dela, produziu obras de filosofia, ficção e crítica social, como:
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"Icosameron" (1788) – um romance utópico e fantástico.
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"Lana Caprina" – ensaios sobre costumes e política.
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"O Duelo" – novela sobre honra e rivalidade.
Casanova tinha um estilo literário elegante e espirituoso, revelando uma mente lúcida, cética e muitas vezes melancólica.
O sedutor e suas mulheres
Casanova ficou eternizado como o símbolo do amante libertino. Ao longo de sua vida, segundo seus próprios relatos, envolveu-se com mais de cento e vinte mulheres, em aventuras que misturavam paixão, jogo de poder e inteligência. Diferentemente da imagem vulgar de um mero conquistador, Casanova via o amor como uma forma de arte e de conhecimento — uma experiência estética e espiritual. Seus encontros amorosos, descritos em detalhes, revelam o erotismo refinado e a mentalidade libertina da Europa do século XVIII.
As prisões e fugas
Em 1755, Casanova foi preso pela Inquisição de Veneza, acusado de impiedade, blasfêmia e práticas ocultistas. Foi trancafiado nos temidos Piombi, as prisões do Palácio Ducal. Sua fuga, em 1756, foi lendária: cavou o teto da cela e escapou pelo telhado, tornando-se uma figura quase mítica. O episódio reforçou sua fama de homem engenhoso e indomável.
O filósofo e o intelectual
Além de suas conquistas amorosas, Casanova foi um homem do Iluminismo. Interessava-se por ciência, filosofia e política. Manteve contato com figuras como Voltaire, Rousseau e Mozart (para quem teria colaborado na revisão do libreto de Don Giovanni). Sua visão de mundo era cética, racional e profundamente individualista. Casanova acreditava na liberdade, na inteligência e no prazer como forças essenciais da vida.
Últimos anos e morte
Após anos de viagens e escândalos, Casanova retornou a Veneza em 1774, mas foi exilado novamente por motivos políticos. Em 1785, aceitou o cargo de bibliotecário do Conde de Waldstein, no castelo de Dux, na Boêmia (atual República Tcheca). Foi ali, isolado e envelhecido, que começou a escrever suas memórias.
Morreu em 4 de junho de 1798, aos 73 anos, cercado por livros e lembranças de uma vida extraordinária.
Cronologia da vida de Giacomo Casanova
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1725 – Nasce em Veneza.
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1742 – Forma-se em Direito Canônico.
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1745–1755 – Vive como aventureiro pela Europa.
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1755 – É preso pela Inquisição veneziana.
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1756 – Escapa da prisão e foge para Paris.
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1760–1774 – Atua como diplomata e espião em diversos países.
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1785 – Torna-se bibliotecário em Dux.
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1790–1798 – Escreve História da Minha Vida.
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1798 – Morre na Boêmia.
Polêmicas e controvérsias sobre sua vida pessoal
A reputação de Casanova como sedutor e libertino gerou tanto fascínio quanto repulsa. Para alguns, ele foi um símbolo de liberdade e inteligência; para outros, um manipulador. Seu relato autobiográfico mistura fatos e exageros, o que torna difícil separar a realidade do mito.
Casanova foi acusado de charlatanismo, fraude e até magia negra — acusações comuns na época contra homens de espírito livre. Suas relações com mulheres mais jovens e seu comportamento hedonista são hoje reinterpretados à luz dos costumes e valores de seu tempo.
Importância histórica
Casanova é uma das figuras mais representativas do século XVIII europeu. Seu testemunho revela com riqueza de detalhes a sociedade, a política, os costumes e o pensamento de uma época que caminhava entre o barroco e o Iluminismo. Ele foi, ao mesmo tempo, testemunha e protagonista de um mundo em transformação, marcado pelo declínio da aristocracia e o surgimento do racionalismo moderno.
Legado
O nome “Casanova” tornou-se sinônimo universal de sedutor, mas seu legado vai muito além disso. Ele foi um cronista brilhante da alma humana, e suas memórias são uma das fontes mais vivas sobre o espírito do Iluminismo.
Sua autobiografia influenciou autores como Goethe, Stendhal, Proust e Thomas Mann, e permanece uma das obras mais fascinantes da literatura ocidental.
Bibliografia – Melhores livros sobre Casanova
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"História da Minha Vida" (Histoire de ma vie) – Giacomo Casanova
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"Casanova: A Life" – Ian Kelly
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"Casanova: The World of a Seductive Genius" – Laurence Bergreen
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"Casanova in Bohemia" – Andrei Codrescu
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"Giacomo Casanova: The Man Who Really Loved Women" – Lydia Flem
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"The Story of My Escape from the Piombi" – Giacomo Casanova (relato de sua fuga das prisões de Veneza)
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"Casanova: The Venetian Years" – tradução e edição crítica de Arthur Machen








